Continuando… Zeus e Hera enviaram convites para todos comparecerem ao casamento, Hermes é o mensageiro e as Horas são as porteiras, também vamos conhecer a história da ninfa Quelone… Veja aqui o capítulo anterior, onde mostro como Hera conheceu Zeus e porque se uniram.

O casamento de Hera e Zeus

Texto autor: Renato Silva

Zeus e Hera vão se casar! esta noticia correu entre as terras e os céus de todo o universo, o Olimpo estava em festa. As gigantescas portas da morada dos deuses foram abertas pelas três belas divindades conhecidas como Horas, elas se chamam Eunomia, Dice e Irene estas deusas, presidiam as estações do ano e a ordem do mundo, elas são filhas de Zeus e Têmis, dentre outras atribuições, as Horas serviam como porteiras do Olimpo.

Logo atrás das porteiras celestiais, podia-se ver o suntuoso e magnífico palácio dourado, onde a maior festas de todas seria realizada, a festa de casamento de Zeus e Hera. Os convidados iam se adentrando ao suntuoso lar, eles atravessavam uma ponte tão colorida quanto milhares de arco-íris, até a entrada do palácio de Zeus. As três irmãs as Horas, estavam radiantes de alegria, muito simpáticas, se esforçavam ao máximo para nenhum convidado passar despercebido e quando chegavam eram tratados com grande respeito e gentileza.

As Horas dão boas vindas aos convidados

Os convidados, iam se adentrando no palácio, eles conversavam alegremente, o clima era muito bom e não havia objeções ao casamento de Zeus e Hera. Vários tipos de seres surgiam, da forma mais multicultural que poderia ser visto, muitos tipos de raças e estilos. Entre os convidados estava Atena (Minerva na mitologia romana), Apolo (Febo na mitologia romana), Ártemis (Diana na mitologia romana)…

Vale destacar o casal mais improvável, a deusa da beleza e do amor Afrodite (Vênus na mitologia romana) estava muito feliz com o seu esposo Hefesto (Vulcano na mitologia romana) o deus das forjas, o mais feio de todos. As Horas perceberam que neste momento Hefesto resolveu se arrumar, feito nunca visto antes… retirou todas as fuligens presas ao seu corpo, penteou os cabelos e bem se vestiu.

Enfim, os últimos convidados se adentravam ao palácio. Em sua ficha de controle as dedicas Horas riscavam todos os convocados que passavam… com um sorriso angelical, elas davam as boas vindas. Como esperado, as três irmãs faziam comentários pessoais entre elas, sobre os deuses, deusas e demais seres convidados. De Atena elas admiravam as roupas e a beleza, de Hefesto comentavam que apesar de mais apresentável, nada escondia a sua feiura, de Afrodite elas ficavam abismada, com tamanha beleza e a aura de atração que todos sentiam pela deusa do amor, de Apolo comentavam que o encanto pessoal dele, somado a sua incrível aparência e a sua seriedade arcana o deixava tão notório quanto o sol…

A tão esperada vez de Poseidon (Netuno na mitologia romana) passar pelos portões chegou, ele vinha com a sua exótica e bela corte aquática… logo atrás vinha outro ser, com uma corte mais exótica ainda, de caráter mórbido, era Hades (Plutão na mitologia romana) que trazia junto a si, a sua magnifica esposa Perséfone (Prosérpina na mitologia romana) sempre séria, mas naquele momento, ela sorria mais que o normal.

Falta Quelone!

Aparentemente todos convidados já estavam no palácio… quando chegou o divino mensageiro, dos sapatos alados o místico Hermes  (Mercúrio na mitologia romana) perguntando para as Horas – porteiras do Olimpo, como vai? todos os convidados da lista, já passaram?… Irene respondeu pelas suas irmãs – acredito que sim, falta mais ninguém, há não ser você, o último da lista.

Vale salientar, que Hermes era o ultimo da lista, o ultimo a se adentrar na festa… pelo motivo que ele foi encarregado pelo seu pai de levar os convites de casamento a todos os convocados, assim como conferir se os convidados estavam realmente vindo… sendo assim, ele teve que realizar a árdua tarefa de viajar por todos os lugares do universo, em uma velocidade fabulosa, Hermes era o deus próprio para isso, o mais rápido de todos.

Zeus queria iniciar a festa com todos os convidados presentes, triste de quem não fosse! Foi quando Eunomia gritou –Não, esperem! vejam só, falta um convidado, este não está presente. Suas duas outras irmãs, “colaram” as mãos no rosto, atônitas, dizendo – é mesmo! espere Hermes, falta alguém. Hermes espantado disse! – o que! falta um convidado? estou certo de ter entregue o convite a todos.

— Sim, olhe o nome na lista, falta a ninfa Quelone! realmente ela não veio, ninguém passa por estas porteiras sem ser visto por nós – Disse Eunomia. 

Hermes vai em busca da Quelone

— O que sera que aconteceu com a Ninfa Quelone? disseram as três Horas numa única voz, as vezes, elas falam com impecável ritmo de uma unica vez. Hermes preocupado com a ninfa Quelone, pensado ter acontecido algo sério, apertou as suas sandálias aladas aos seus pés e “desapareceu”, na verdade ele não desapareceu, é que a sua velocidade é tão incrível, que a sua corrida mais parece um teleporte! a única coisa que as três Horas puderam ouvir, foi Hermes dizendo — Vou refazer o trajeto até a casa da Quelone, para ver o que houve!

Hermes percorria o trajeto aflito, preocupado… pois, desobedecer ou ignorar este convite de Hera e Zeus, tinha por punição a morte! se reagisse, a guerra. Hermes com o intuito de salvar a ninfa Quelone, viajava numa velocidade ainda mais rápido que o seu último recorde de corrida! dizendo – Hera vai matar Quelone, se descobrir que ela ignorou a sua festa de casamento!

O que aconteceu com Quelone? deve estar perguntando o nobre leitor(a)… pois bem, pasmem! Quelone ainda estava descansando tranquilamente na sua casa, à beira do rio, esboçando nenhuma preocupação, se espreguiçando num cochilo relaxador! dizendo: – Quem esta tal de Hera pensa que é? Ela acha que eu vou percorrer tamanha distância até a sua festa de casamento, só para lhe bajular?

Quelone cochilando

Quelone não tinha nenhuma vontade de ir até a festa de casamento da Hera, na verdade Quelone era a preguiça em pessoa, ela não tinha vontade de fazer absolutamente nada, sempre arrumando uma desculpinha para ficar relaxando. Assim dizia um Fauno próximo a Quelone – Apesar dela ser uma ninfa adorável, ela é a mais preguiçosa das criaturas, terrivelmente preguiçosa!

Quelone completamente indecisa, refrescando os pés na beira do rio, pensava — Acho que agora não dá mais tempo… enquanto ela estava deitada, tomando banho de sol. Derrepente, Hermes voando em direção a ela tapou a iluminação do sol. Quelone de olhos fechados, dizia – agora é que eu não vou mesmo… lá vem chuva!

Hermes chama Quelone a preguiçosa

Hermes, aterrizando ao lado dela disse – olha só! está aí relaxando, sua preguiçosa, eu já imaginava! disse o deus, indignado com tamanha displicência. Quelone se levantou assustada, dizendo – Ah, é você Hermes! sempre correndo de uma lado para o outro, de cima para baixo, não é mesmo? enquanto se deitava novamente.

Hermes ainda indignado com ela, respondeu, lavando o rosto nas águas do rio – Eu estou voando, querida, voando, e com muita pressa! vamos, levante-se preguiçosa! já está começando a festa de casamento da Hera!

Quelone lhe retrucou – humpf ! eu não posso ir, acordei com o meu pé machucado.

Hermes não acreditando na história da moça, disse – O cobertor esmagou o seu pé? 

– Ai! meu pé, está doendo até agora é a pura verdade, acredite se quiser… Disse a jovem ninfa Quelone, ficando de pé, fingindo dificuldades. Mas o deus mensageiro não estava para conversa mole. Logo ele obediente foi em direção ao Olimpo, induzindo a ninfa a ir junto. Durante o trajeto, ela teimava em atrasar os passos de Hermes, parando inúmeras vezes com muita preguiça, fingindo todos tipos de desculpinhas possíveis, toda vez que ela parava Hermes convencia ela de ir adiante. Mas a paciência tem limites! Hermes percebeu que andando junto com Quelone jamais chegaria na festa, e se caso isso acontecesse, seria Hermes severamente punido por Hera.

Quelone atrasa Hermes

Hermes já todo aflito, disse perdendo de vez a paciência – deste jeito você está me prejudicando Quelone! eu serei punido ou até morto, se não chegar no casamento a tempo! adeus, já chega, eu vou indo na frente!

Do qual, Quelone, sentando em uma confortável rocha lhe respondeu – Isto, vá logo, seu apressadinho! neste momento, com a persistência de Hermes induzindo ela a andar, ela tinha chegado no começo da longa estrada arco-íris, que levava até o palácio de Zeus. Quelone ainda resmungava sozinha – “Se estava com tanta pressa, por que não me levou nos braços? ainda disse que a preguiçosa sou eu!

Ela com preguiça e sem ninguém para conversar ou insistir para continuar, dormiu na entrada da estrada arco-íris. Quando Quelone acordou, a magnífica festa já tinha terminado. Os deuses, deusas, ninfas, faunos e demais seres convidados, passavam por ela, todos alegres e completamente satisfeitos com a festa, todos se beneficiaram de alguma forma… menos Quelone a atrasada.

A festa acabou

Passou um Fauno embriagado por ela, dizendo – Que festa, hein?

Uma bela Nereida, toda alegre confirmou – Esta festa sim, valeu a pena!

Enfim… deuses, deusas, ninfas, faunos, nereidas etc… esbarravam em Quelone, pelo motivo que ela era a única a seguir em sentido contrário, eram tantos convidados, que a ponte ficou lotada de seres voltando.

Dóris a esposa de Nereu, estranhando a moça esbarrando em todos no sentindo contrário, perguntou-lhe – Esqueceu algo, querida? mas Quelone toda arrogante replicou – Não me amole!

Mesmo sabendo que a festa já tinha acabado a ninfa Quelone ia em direção ao palácio de Zeus e da Hera, na intenção de se explicar com a nova rainha do céu, porque não compareceu a festa. Enquanto caminhava ela ia atuando e praticando uma desculpa, e como iria dizer e se comportar quando chegasse diante Hera.

Quelone volta para casa

Porém Quelone desistiu da ideia, olhou aquela longa estrada, e disse para si mesma – Que rainha do céu que nada, quer saber de uma coisa? eu vou voltar para a minha casa! E a ninfa voltou mesmo, desta vez mais rápida, pois agora ela tinha em mente uma cama muito aconchegante, para dormir novamente.

Quando ela, toda cansada chegou em sua casa, logo foi procurando a cama para descansar. Porém Hermes a esperava. Quando viu ela, ficou nervoso e disse – Você não foi até a festa!

Quelone “bocuda” do jeito que é, retrucou Hermes – Não me incomode novamente, seu pé-de-vento, vá arrumar o que fazer, deixe-me descansar, nunca andei tanto! com um tom de desdém, ainda complementou – Vá lá e diga para a nova rainha do céu, que um dia eu vou lá parabeniza-la!

Hermes punindo Quelone

Entretanto desta vez Quelone errou irreparavelmente, ao invés de ser extremamente carismática com um Hermes já irritado, ela jogou mais lenha na fogueira… com esta sua ultima frase, Hermes perdeu a paciência de vez, e ele a puniu de forma exagerada! pegou a pobre ninfa pelos pés e a arremessou dentro do lago, em seguida pegou a casa da Quelone e lançou por cima dela!

– Aí está sua preguiçosa! –  disse o deus, já voltando para o Olimpo.

Depois de algum tempo, a pobre Quelone que foi terrivelmente punida, ressurgiu vindo das profundezas do lago. Ela não tinha mais a aparência humana, todo o seu corpo estava enrugado como a pele de um lagarto. Além disso ela tinha quatro pernas! em cima das suas costas estava o peso da sua antiga casa, no formato de uma grande e pesada carapaça, para piorar Quelone estava muito mais lenta!

Desta maneira, a ninfa Quelone que faltou à cerimônia do casal mais poderoso do Olimpo Zeus e Hera, teve um triste fim. Foi transformada no animal que hoje conhecemos como Tartaruga.

*Curiosidade: Até alguns animais foram convidados, para ir a festa de casamento de Zeus e Hera, estes animais de alguma forma compreenderam e foram a festa, nenhum animal ousou faltar! aliás ninguém faltou, há não ser Quelone.

*Curiosidade: Em grego a palavra Khelônê significa Tartaruga.

Continua na história 6  “O misterioso, esplendido e inusitado nascimento da deusa Afrodite (Vênus na mitologia romana)”

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